sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

ARTE AFRICANA


A arte africana envolve um espectro diferenciado, desde representações em pinturas, esculturas e objetos ornamentais de uso permanente e cotidiano para comemorar os ancestrais, cultuar as forças naturais, invocar forças vitais, propiciar boas colheitas, até objetos em geral que acompanham os ritos, as danças e as cerimônias religiosas em sua ampla gama de singularidades.
Na maior parte da literatura sobre essa produção estética uma grande ênfase foi colocada sobre o caráter utilitário e religioso da mesma. Quase todos os autores são unânimes em afirmar que a expressão "arte’ não tem sentido nessas sociedades, porém BALOGUN assim a interpreta:
Tem sido frequentemente dito que a arte era uma linguagem universal, capaz de franquear todas as distâncias e de transmitir uma mensagem a todos os homens, fosse qual fosse a sua raça ou fé. Por mais sedutora que esta imagem possa parecer, não deixa, por isso de ser verdade que, tal como muitas vezes o verificamos, numerosas obras de arte estão estreitamente ligadas aos fatores sociais, históricos e específicos da sociedade nas quais surgiram e se desenvolveram que não são imediatamente acessíveis àqueles que são estranhos ao meio no qual elas se formaram. Sucede, por vezes, que a obra de arte perde mesmo todo o seu poder de comunicação quando é apresentada num quadro diferente daquele em que surgiu. A linguagem de uma obra de arte, isto é, a sua forma, pode ser totalmente indecifrável para aqueles que não possuem em comum com ela os elementos que permitem interpretá-la, ... Mesmo se se compreender a forma de que se reveste uma dada obra de arte afim de estabelecer uma comunicação, nada garante que o conteúdo real da mensagem da qual ela é o veículo seja acessível àquele que permanece estranho ao clima que presidiu à sua criação.
E prosseguindo:
... (1977:37,38). A linguagem da arte só ganha em caráter universal se se conhecer o contexto histórico e sócio-cultural no qual cada obra de arte foi realizada ou, pelo menos, se se estiver disposto a esquecer por alguns instantes os critérios que herdamos dos nossos antepassados.
(balogun, 1977: 37,38)
Autores contemporâneos a tem analisado já com esta visão, isto é, conhecendo primeiro as representações plásticas de cada grupo das distintas civilizações que conformam o continente, a exemplo citamos MONTIEL:
Esta "arte" tem estado sempre vinculada ao desenvolvimento das capacidades técnicas ou artesanais e às formas econômicas, com as relações sociais e as instituições que regem os vínculos entre os membros de uma sociedade. Por isso, expressa a capacidade no trabalho de metais, madeira, conchas, pedras, etc. Em síntese, na arte encontram-se todas as representações coletivas. (montiel,1992:28)
As máscaras são as formas mais conhecidas da plástica africana. Constituem síntese de elementos simbólicos mais variados se convertendo em expressões de vontade criadora do africano; foram os objetos que mais impressionaram os povos europeus desde as primeiras exposições em museus do Velho Mundo, através de milhares de peças saqueadas do patrimônio cultural da África, embora sem reconhecimento de seu significado simbólico.
Uma máscara é um ser que protege quem a carrega. Está destinada a captar a força vital que escapa de um ser humano ou de um animal, no momento de sua morte.
A máscara transforma o corpo do bailarino que conserva sua individualidade e, servindo-se dele como se fosse um suporte vivo e animado, encarna a outro ser; gênio, animal mítico que é representando assim momentaneamente (laude,1968:144)
A energia captada na máscara é controlada e posteriormente redistribuída em benefício da coletividade.
Como exemplo dessas máscaras destacamos as Epa e as Gueledeé
Epa – máscara elmo, em madeira, tem sua base que cobre toda cabeça do portador apoiada em seu ombro. Sobre o capacete há uma plataforma composta de figuras. O trabalho é realizado em uma única peça, o elmo, o platô e um tronco central que representa um tema, circunstancia ou acontecimento. Outras figuras podem ser entalhadas ao redor por meio de resinas, desde a plataforma do elmo. Este contrasta pela simplcidade, pois representa somente os olhos e algum outro detalhe facial. Os olhos de forma amendoada, com duas bordas, tem o globo ocular vazado para indicar as pupilas. Algumas máscaras tem duas ou mais plataformas com figuras superpostas.
Gueledeé – são pequenas, tipo tabuleiro se carrega sobre o busto. Cobre-se o rosto do portador com tecidos ajustados à máscara, e à nuca do portador que enxerga através de orifícios feitos neste tecido. Estas máscaras representam, de maneira sintética, personagens ligados à incorporação mística, para issso recorrem à escultura em madeira com alguns detalhes que sobrepõem à máscara. Os traços faciais compõem rostos largos, de lábios salientes bem demarcados, inclusive no centro. Os olhos amendoados, as pálpebras superiores muito amplas e s pupilas vazadas. Para as orelhas possuem grande variedades de formas e são enxertadas na altura do olho. Os rostos apresentam algumas escarificações. Estas máscaras são policromadas com tinta e água em cores contrstantes e em algumas zonas de expansão ioruba chegam a ser enriquecidas com duas faces uma ao lado da outra ou opostas. (argeliers,1980:69,70)
A escultura em madeira se estende á fabricação de múltiplas figuras que servem de atributo às divindades, podendo ser cabeças de animais, figurinhas alusivas a acontecimentos, fatos circunstanciais pessoais que o homem coloca frente às forças.
Existem também objetos que denotam poder, como insígnias, espadas e lanças com ricas esculturas em madeira recoberta por lâminas de ouro sempre com motivos alusivos à figura dos dignatários.
Os utensílios de uso cotidiano, portas e portais para suas casas, cadeiras e utensílios diversos sempre repetindo os mesmo desenhos estilísticos.
Além das esculturas em madeira existem os objetos confeccionados com fragmentos de vidro das mais diversas cores, colocados em gorros, possuindo uma gama de figuras humanas e de animais, feitas com fio de algodão que recobrem todo o tecido, colocados sempre em combinação vertical. As pedras podem ser alternadas por cauris, canudilhos metálicos ou de seda e algodão.
Os tecidos são lisos ou estampados, os bordados são rebordados com linhas e com pedras de vidro. Confeccionam roupas longas e gorros. A criatividade do bordado com pedras de vidro está muito difundida nas populações da República da Nigéria. Os suportes para abanos, crinas e rabos de animais, também decoram com pedras de vidro, canudilhos e cauris.
Os tecidos e o vestuário alcançaram um desenvolvimento plástico considerável em zona de sultura urbana, assimilando muitos elementos da indumentária islâmica e outros introduzidos pelos europeus colonialistas. O tear horizontal, permitiu a confecção variada de tiras que posteriormente se juntam longitudinalmente para formar tecidos maiores.
Deste tipo de confecção o mais característico é o chamado Kente, entre os Ashanti.
Ainda entre estes tecidos está o estampado chamado Denkira, com figuras diferentes que se combinam para compor um desenho ou determinar um motivo fundamental.
Os desenhos são imersos em uma tintura vegetal e impressos em tecido branco estendido em uma almofada.
Os Fon, e outros grupos, recorrem ao tecido estampado com desenhos multicoloridos, à maneira de appliqueé. Com esta técnica fazem peças destinadas a vestimentas. Nestes casos o desenho reproduz histórias e vivências e até pequenos acontecimentos engraçados na trajetória de seus donos e de grandes personalidades. Para a execução deste trabalho dão preferência aos tecidos escuros sobre os quais o artista ou qualquer outra pessoa com criatividade, vai prendendo os desenhos coloridos costurando-os nas bordas. Os mesmos desenhos são repretidos várias vezes e em várias posições e cores.
Entre os Iorubá, principalmente é costume o estampado em azul índigo, trabalham diversas técnicas mas não excluem o batik, muito empregado em África.
Outra expressão plástica entre os Ioruba, é a gravura das louças, tigelas e demais recipientes.
A produção da escultura em marfim ocorreu em larga escala, porém nos últimos anos, devido à proibição da caça aos elefantes pelo risco da extinção da espécie, ou ainda a intervenção das ONGs que se ocupam da preservação do meio ambiente: fauna e flora, houve uma escassez do material e uma diminuição da produção. Antigamente, faziam peças pequenas para serem usadas como proteção, braceletes, pequenas figuras de animais especialmente leopardos. Também haviam esculturas em madeira com marfim incrustado. Em menor quantidade estão os objetos esculpidos em pedra dura.
Utilizam o ferro à partir de uma prancha fundida mediante pressão e calor. São confeccionados muitos atributos em várias formas pelos Abomei, de quem é a imagem da entidade Gu, dono do ferro representado por uma figura antropomorfa. Com a mesma técnica são encontrados vários atributos a diversas entidades e também vários instrumentos musicais.
A fundição do bronze na cidade Iorubá de Ifé e logo após Benin, tornou-se a expressão mais desenvolvida da plástica tradicional africana, influindo e criando múltiplas variantes de fundição do bronze em outros núcleos desta região.
No ano de 1300 o soberano de Ifé, a cidade sacralizada, enviou um de seus descendentes ao reino de Benin para conhecer suas técnicas e aplicá-las em seu regresso, o estilo da arte em bronze do Benin é um testemunho das relações estreitas entre os dois reinos, mas os Ioruba, os superaram, na técnica e na delicadeza de sua arte.
O bronze de Ifé parte de um estilo de modelação como a Terracota. Seus antecedentes tem sido encontrados nas terracotas de Nok. Nestas os detalhes da figura humana estão um pouco sintetizados, destacando algumas marcas regionais, e nisto, assim como nas proporções gerais diferem das de Ifé, nas que se percebe a busca dos modelos anatômicos, como se fossem retratos, dentro de um tamanho menor. As cabeças de bronze apresentam variedades de caracteres faciais, presos em detalhes sutis que permitem apreciar diferentes expressões nos rostos e até incluem algumas deformações anatômicas.
SILVA, apoiando-se em autores como CUNHA,1983, MUNANGA,1974 e 1987, conclui que essa arte:
... Não se trata apenas de arte religiosa, ou funcional e que necessitamos de estudos profundos que nos levem a compreender melhor o sentido da abstração dessa produção. A arte africana contemporânea é fundamentalmente uma arte conceitual, comunicando idéias, conceitos, símbolos. E seu conhecimento pressupões informações sobre o universo cultural ao qual se refere.
Como esse conhecimento é inexistente, surge o rótulo de "exótica" ou de "primitiva" ou de "selvagem" (silva,1989:40)
O rigor plástico e a solidez que possui, seduziu os cubistas e encantou os surrealistas.

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