Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, interior de Minas Gerais, em 14 de março de 1914. Estudou até o segundo ano primário. Migrou para São Paulo em 1947, indo morar na extinta favela do Canindé, na zona norte. Nessa cidade, trabalha como doméstica, não se adaptando, contudo, a esse tipo de trabalho. Passa a trabalhar como catadora de papel, trabalho que realiza até sua morte, em 1977. Carolina nunca se casou e teve três filhos.
Até aqui, temos uma história que poderia ser a de qualquer outra mulher brasileira pobre: negra, semi-alfabetizada, favelada, como tantas que existem pelo Brasil afora, não fosse por um detalhe – a paixão de Carolina Maria de Jesus pela leitura e pela escrita. Carolina dividia seu tempo entre catar papel, cuidar dos filhos e escrever.
Em 1958, aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha da Noite. No ano seguinte, é a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela feito por Carolina.
Em meados da década de 1960, o jornalista Audálio Dantas, ao visitar a favela do Canindé para escrever uma matéria sobre a expansão do local, conhece Carolina, que lhe entrega os manuscritos de seu diário. Surge então seu primeiro livro, Quarto de despejo, livro-diário em que relata a fome cotidiana, a miséria, os abusos e preconceitos sofridos por ela, seus filhos e outros moradores da favela.
Quarto de despejo foi lançado pela Livraria Francisco Alves em agosto de 1960 e editado oito vezes no mesmo ano; mais de 70 mil exemplares foram vendidos na época. Para se ter uma idéia do sucesso, para uma tiragem então ser considerada bem-sucedida, era preciso alcançar a margem de, aproximadamente, quatro mil exemplares. Nos cinco anos seguintes, Quarto de despejo foi traduzido para 14 idiomas e alcançou mais de 40 países, como Dinamarca, Holanda, Argentina, França, Alemanha, Suécia, Itália, Tchecoslováquia, Romênia, Inglaterra, Estados Unidos, Rússia, Japão, Polônia, Hungria e Cuba.
Além de Quarto de despejo, Carolina também publicou Casa de alvenaria (1961), Provérbios e Pedaços da fome (1963) e Diário de Bitita (publicação póstuma, realizada em 1982, pela editora francesa A. M. Métailié).
Há indícios, na prosa da escritora, de que ela teria tido acesso a obras de grandes escritores brasileiros, provavelmente nas casas em que trabalhou, o que explicaria as menções em suas obras a poetas como Casimiro de Abreu e Castro Alves. Em seus livros, Carolina alterna incorreções ortográficas, sintáticas e de pontuação – reflexos da linguagem oral – com o emprego correto de termos específicos da linguagem escrita culta.
Outro traço particular de Carolina Maria de Jesus é a sua consciência política e social. Passagens de seus livros mostram que a escritora estava sempre a par do que acontecia não só em São Paulo, mas também em outros Estados, provavelmente por meio de notícias lidas em jornais que via nas bancas.
Apesar de todo o sucesso de seu primeiro livro, as publicações seguintes da autora não tiveram êxito, e Carolina caiu no esquecimento. Pobre, morreu na casa em que morava com o filho mais velho, no bairro de Parelheiros, em São Paulo, no dia 13 de fevereiro de 1977.
Em lembrança aos 30 anos da morte de Carolina Maria de Jesus, o Instituto Moreira Salles destaca a vida e a obra desta escritora tão pouco conhecida, mas de grande importância para a literatura brasileira.