quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

OS ORIXÁS NOS CANDOMBLÉS DE NAÇÃO ADAPTADOS EM TERRAS BRASILEIRAS







EXÚ

Exu era o irmão mais novo de Ogum, Odé e outros orixás. Era tão turbulento e criava tanta confusão que um dia o rei, já não suportando sua malfazeja índole, resolveu castigá-lo com severidade. Para impedir que fosse aprisionado, os irmãos o aconselharam a deixar o país. Mas enquanto Exu estava no exílio, seus irmãos continuavam a receber festas e louvações. Exu não era mais lembrado, ninguém tinha notícias de seu paradeiro. Então, usando mil disfarces, Exu visitava seu país, rondando, nos dias de festa, as portas dos velhos santuários. Mas ninguém o reconhecia assim disfarçado e nenhum alimento lhe era ofertado. Vingou-se ele, semeando sobre o reino toda sorte de desassossego, desgraça e confusão. Assim o rei decidiu proibir todas as atividades religiosas, até que se descobrissem as causas desses males. Então os babalorixás reuniram-se em comitiva e foram consultar um babalaô que residia nas portas da cidade. O babalaô jogou os búzios e Exu foi quem falou no jogo. Disse nos odus que tinha sido esquecido por todos. Que exigia receber sacrifícios antes dos demais e que fossem para ele os primeiros cânticos cerimoniais. O babalaô jogou os búzios e disse que oferecessem um bode e sete galos a Exu. Os babalorixás caçoaram do babalaô, não deram a menor importância às as suas recomendações e ficaram por ali sentados, cantando e rindo dele. Quando quiseram levanta-se para ir embora, estavam todos grudados nas cadeiras. Sim, era mais uma das ofensas de Exu! O babalaô então pôs a mão no ombro de cada um e todos puderam levanta-se livremente. Disse a eles que fizessem como fazia ele próprio: que o primeiro sacrifício fosse para acalmar Exu. Assim convencidos, foi o que fizeram os pais e mães de santo, naquele dia e sempre desde então.







OGUM

Na Terra criada por Obatalá, em Ifé, os orixás e os seres humanos trabalhavam e viviam em igualdade. Todos caçavam e plantavam usando frágeis instrumentos feitos de madeira, pedra ou metal mole. Por isso o trabalho exigia grande esforço. Com o aumento da população de Ifé, a comida andava escassa. Era necessário plantar uma área maior. Os orixás então se reuniram para decidir como fariam para remover as árvores do terreno e aumentar a área da lavoura. Ossaim, o orixá da medicina, dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno. Mas seu facão era de metal mole e ele não foi bem sucedido. Do mesmo modo que Ossaim, todos os outros orixás tentaram um por um e fracassaram na tarefa de limpar o terreno para o plantio. Ogum, que conhecia o segredo do ferro, não tinha dito nada até então. Quando todos os outros orixás tinham fracassado, Ogum pegou seu facão, de ferro, foi até a mata e limpou o terreno. Os orixá, admirados, perguntaram a Ogum de que material era feito tão resistente facão. Ogum respondeu que era de ferro, um segredo recebido de Orunmilá. Os orixás invejavam Ogum pelos benefícios que o ferro trazia, não só à agricultura, mas como à caça e até mesmo à guerra. Por muito tempo os orixás importunaram Ogum para saber do segredo do ferro, mas ele mantinha o segredo só para si. Os orixás decidiram então oferecer-lhe o reinado em troca de que ele lhes ensinasse tudo sobre aquele metal tão resistente. Ogum aceitou a proposta. Os humanos também vieram a Ogum pedir-lhe o conhecimento do ferro. E Ogum lhes deu o conhecimento da forja, até o dia em que todo caçador e todo guerreiro tiveram suas lanças de ferro. Mas, apesar de Ogum ter aceitado o comando dos orixás, antes de mais nada ele era um caçador. Certa ocasião, saiu para caçar e passou muitos dias fora numa difícil temporada. Quando voltou da mata, estava sujo e maltrapilho. Os orixás não gostaram de ver seu líder naquele estado. Eles o desprezaram e decidiram destituí-lo do reinado. Ogum se decepcionou com os orixás,pois, quando precisaram dele para o segredo da forja, eles o fizeram rei e agora dizem que não era digno de governá-los. Então Ogum banhou-se, vestiu-se com folhas de palmeira desfiadas, pegou suas armas e partiu. Num lugar distante chamado Irê, construiu uma casa embaixo da árvore de acocô e lá permaneceu. Os humanos que receberam de Ogum o segredo do ferro não o esqueceram. Todo mês de dezembro, celebram a festa de Iudê-Ogum. Caçadores, guerreiros, ferreiros e muitos outros fazem sacrifícios em memória de Ogum. Ogum é o senhor do ferro para sempre.











OXÓSSI

Oxóssi ou Odé foi rei de Ketu. Sua origem lendária conta que durante os festejos da colheita de Inhame , no palácio real de Olofin, em Ifé, este havia esquecido das oferendas às feiticeiras (Yammis Oxorongá). Por vingança, elas mandaram ao palácio um imenso pássaro que planou sobre a multidão e pousou no telhado do palácio. Desesperado, Olofin convocou quatro Oxos(caçadores), mas só o último deles, Oxotakanxoxo("O atirador de uma única flecha") conseguiu matar o animal e passou a chamar-se Oxóssi, o caçador amado pelo povo.
















LOGUN EDÉ

Logum Edé era caçador solitário e infeliz, mas orgulhoso. Era um caçador pretensioso e ganancioso, e muitos o bajulavam pela sua formosura. Um dia Oxalá conheceu Logum Edé e o levou para viver em sua casa sob sua proteção. Deu a ele companhia, sabedoria e compreensão. Mas Logum Edé queria muito mais, queria mais. E roubou alguns segredos de Oxalá. Segredos que Oxalá deixara à mostra, confiando na honestidade de Logum. O caçador guardou seu furto num embornal a tiracolo, seu adô. Deu a costas a Oxalá e fugiu. Não tardou para Oxalá dar-se conta da traição do caçador que levara seus segredos. Oxalá fez todos os sacrifícios que cabia oferecer e muito calmamente sentenciou que toda vez que Logum Edé usasse um dos segredos todos haveriam de dizer sobre o prodígio: "Que maravilha o milagre de Oxalá!", Toda vez que usasse seus segredos alguma arte não roubada ia faltar. Oxalá imaginou o caçador sendo castigado e compreendeu que era pequena a pena imposta. O caçador era presumido e ganancioso, acostumado a angariar bajulação. Oxalá determinou que Logum Edé fosse homem num período e no outro depois fosse mulher. Nunca haveria assim de ser completo. Parte do tempo habitaria a floresta vivendo da caça, e noutro tempo, no rio, comendo peixe. Nunca haveria assim de ser completo. Começar sempre de novo era sua sina. Mas a sentença era ainda nada para o tamanho do orgulho do Odé. Para que o castigo durasse a eternidade, Oxalá fez de Logum Edé um orixá.











OSSAIN

Ossaim, filho de Nanã e irmão de Oxumare, Euá e Obaluaiê, era o senhor das folhas, da ciência e das ervas, o orixá que conhece o segredo da cura e o mistério da vida. Todos os orixás recorriam a Ossaim par curar qualquer moléstia, qualquer mal do corpo. Todos dependiam de Ossaim na luta contra doença. Todos iam à casa de Ossaim oferecer seus sacrifícios. Em troca Ossaim lhes dava preparados mágicos: banhos, chás, infusões, pomadas, abô, beberagens. Curava as dores, as feridas, os sangramentos; as disenterias, os inchaços e fraturas; curava as pestes, febres, órgãos corrompidos; limpava a pele purulenta e o sangue pisado; livrava o corpo de todos de os males. Um dia Xangô, que era o deus da justiça, julgou que todos os orixás deveriam compartilhar o poder de Ossaim, conhecendo o segredo das ervas e o dom da cura. Xangô sentenciou que Ossaim dividisse suas folhas com os outros orixás. Mas Ossaim negou-se a dividir suas folhas com os outros orixás. Xangô então ordenou que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as folhas das matas de Ossaim para que fossem distribuídas aos orixás. Iansã fez o que Xangô determinara. Gerou um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou pelo ar em direção ao palácio de Xangô. Ossaim percebeu o que estava acontecendo e gritou: "Euê uassá!" "As folhas funcionam!" Ossaim ordenou às folhas que voltassem às suas matas e as folhas obedeceram às ordens de Ossaim. Quase todas as folhas retornaram para Ossaim. As que já estavam em poder de Xangô perderam o axé, perderam o poder de cura. O orixá-rei, que era uma orixá justo, admitiu a vitória de Ossaim. Entendeu que o poder das folhas devia ser exclusivo de Ossaim e que assim devia permanecer através dos séculos. Ossaim, contudo, deu uma folha para cada orixá, deu uma euê para cada um deles. Cada folha com seus axés e seus ofós, que são cantigas de encantamento, sem as quais as folhas não funcionam. Ossaim distribuiu as folhas aos orixás para que eles não mais o invejassem. Eles também podiam realizar proezas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si. Ossaim não conta seus segredos para ninguém, Ossaim nem mesmo fala. Fala por ele seu criado Aroni. Os orixás ficaram gratos a Ossaim e sempre o reverenciam quando usam as folhas.










OMULÚ

Omulu foi salvo por Iemanjá quando sua mãe, Nanã Burucu, ao vê-lo doente, coberto de chagas, purulento, abandonou-o numa gruta perto da praia. Iemanjá recolheu Omulu e o lavou com a água do mar. O sal da água secou sua feridas. Omulu tornou-se um homem vigoroso, mas ainda carregava as cicatrizes, as marcas feias da varíola. Iemanjá confeccionou para ele uma roupa toda de ráfia. E com ela ele escondia as marcas de suas doenças. Ele era um homem poderoso. Andava pelas aldeias e por onde passava deixava um rastro ora de cura, ora de saúde, ora de doença. Mas continuava sendo um homem pobre. Iemanjá não se conformava com a pobreza do filho adotivo. Ela pensou: "Se eu dei a ele a cura, a saúde, não posso deixar que seja sempre um homem pobre". Ficou imaginando quais riquezas, poderia da a ele. Iemanjá era a dona da pesca, tinha os peixes, os polvos, os caramujos, as conchas, os corais. tudo aquilo que dava vida ao oceano pertencia a sua mãe, Olocum, e ela dera tudo a Iemanjá. Iemanjá resolveu então ver suas jóias Tinha algumas, mas enfeitava-se mesmo era com algas. Ela enfeitava-se com água do mar, vestia-se de espuma. Ela adorava-se com o reflexo de Oxu, a Lua. Mas Iemanjá tinha uma grande riqueza e essa riqueza eram as pérolas, que as ostras fabricavam para ela. Iemanjá, muito contente com sua lembrança, chamou Omulu e lhe disse: "De hoje em diante, és tu quem cuidas das pérolas do mar. Serás assim chamado de Jeholu, o Senhor das Pérolas". Por isso as pérolas pertencem a Omulu. por baixo de sua roupa de ráfia, enfeitando seu corpo marcado de chagas, Omulu ostenta colares e mais colares de pérola, belíssimos colares.











NANÃ

Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o orixá tentou vários caminhos. Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o homem se consumiu. tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada. Foi então que Nanã Burucu veio em seu socorro. Apontou para o fundo do lago com seu ibiri, seu cetro e arma, e de lá retirou uma porção de lama. Nanã deu a porção de lama a Oxalá, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá criou o homem, o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. com a ajuda dos orixás povoou a Terra. Mas tem um dia que o homem morre e seu corpo tem que retornar à terra, voltar à natureza de Nanã Burucu. Nanã deu a matéria no começo mas quer de volta no final tudo o que é seu.













EWÁ

Euá era filha de Nanã Também filhos de Nanã eram Obaluaê, Oxumarê e Ossaim. Esses irmãos regiam o chão da Terra. A terra, o solo, o subsolo, era tudo prosperidade de Nanã e sua família. Nanã queria o melhor para seus filhos, queria que Euá casasse com alguém que a amparasse. Nanã pediu a Orunmilá bom casamento para Euá. euá era linda e carinhosa. Mas ninguém se lembrou de oferecer sacrifício algum para garantir a empreitada. Vários príncipes ofereceram-se prontamente a desposar Euá. E eram tantos os pretendentes que logo uma contenda entre eles se armou. A concorrência pela mão da princesa transformou-se em pugna incessante e mortal. Jovens se digladiavam até a morte. Vinham de muito longe, lutavam como valentes para conquistar sua beleza. Mas a cada vencedor, Euá não se decidia. Euá não aceitava o pretendente. vinham novos candidatos e outros combates. euá não conseguia decidir-se, ainda que tão ansiosa estivesse para casar-se e acabar de vez com o sangramento campeonato. Tudo estava feio e triste no reino de Nanã, a terra seca, o sol quase apagara. só a morte dos noivos imperava. Euá foi então à casa de Orunmilá para que ele a ajudasse a resolver aquela situação desesperadora e pôr um fim àquela mortandade. Euá fez os ebós encomendados por Ifá. Os ventos mudaram, os céus se abriram, o sol escaldava a terra e, para o espanto de todos, a princesa começou a desintegrar-se. Foi desaparecendo, perdendo a forma, até evaporar-se completamente e transformar-se em densa e branca bruma. E a névoa radiante de Euá espalhou-se pela Terra. E na névoa da manhã Euá cantarolava feliz e radiante. Com força e expressões inigualáveis cantava a bruma. O Supremo Deus determinou então que Euá zelasse pelos indecisos amantes, olhasse seus problemas, guiasse suas relações.









OXUMARÊ

Oxumarê era um rapaz muito bonito e invejado. Suas roupas tinhas todas as cores do arco-íris e suas jóias de ouro e bronze faiscavam de longe. Todos queriam aproximar-se de Oxumarê, mulheres e homens, todos queriam seduzi-lo e com ele se casar. Mas Oxumarê era também muito contido e solitário. Preferia andar sozinho pela abóbada celeste, onde todos costumavam vê-lo em dia de chuva. Certa vez Xangô viu Oxumarê passar, com todas as cores de seu traje e todo brilho de seus metais. Xangô conhecia a fama de Oxumare de não deixar ninguém dele se aproximar. Preparou então uma armadilha para capturar o Arco-Íris. Mandou chamá-lo para uma audiência em seu palácio e, quando Oxumarê entrou na sala do trono, os soldados de Xangô fecharam as portas e janelas, aprisionando Oxumarê junto com Xangô. Oxumarê ficou desesperado e tentou fugir, mas todas as saídas estavam trancadas pelo lado de fora. Xangô tentava tomar Oxumarê nos braços e Oxumarê escapava, correndo de um canto para outro. Não vendo como se livrar, Oxumarê pediu ajuda a Olorum e Olorum ouviu sua súplica. No momento em que Xangô imobilizava Oxumarê, Oxumarê foi transformado numa cobra, que Xangô largou com nojo e medo. A cobra deslizou pelo chão em movimentos rápidos e sinuosos. Havia uma pequena fresta entre a porta e o chão da sala e foi por ali que escapou Oxumarê. Assim livrou-se Oxumarê do assédio de Xangô. Quando Oxumarê e Xangô foram feitos orixás, Oxumarê foi encarregado de levar água da Terra para o palácio de Xangô no Orum.











XANGÔ

Xangô e seus homens lutavam com um inimigo implacável. Os guerreiros de Xangô, capturados pelo inimigo, eram mutilados e torturados até a morte, sem piedade ou compaixão. As atrocidades já não tinham limites. O inimigo mandava entregar a Xangô seus homens aos pedaços. Xangô estava desesperado e enfurecido. Xangô subiu no alto de uma pedreira perto do acampamento e dali consultou Orunmilá sobre o que fazer. Xangô pediu ajuda a Orunmilá. Xangô estava irado e começou a bater nas pedras com o oxé, bater com seu machado duplo. O machado arrancava das pedras faíscas, que acendiam no ar famintas línguas de fogo, que devoravam os soldados inimigos. A guerra perdida foi se transformando em vitória. Xangô ganhou a guerra. Os chefes inimigos que haviam ordenado o massacre dos soldados de Xangô foram dizimados por um raio que Xangô disparou no auge da fúria. Mas os soldados inimigos que sobreviveram foram poupados por Xangô. A partir daí, o senso de justiça de Xangô foi admirado e cantado por todos. Através dos séculos, os orixás e os homens têm recorrido a Xangô para resolver todo tipo de pendência, julgar as discordâncias e administrar justiça.







OXUN

Certa vez, Oloú, rei de Oloú, precisava atravessar o rio onde vivia Oxum. O rio naquele dia se encontrava enfurecido e os exércitos do rei não podiam passar pelas traiçoeiras correntezas. Oloú fez um pacto com Oxum para que baixasse o nível das águas. Em troca lhe oferecia um bela prenda. Oxum entendeu que Oloú estava prometendo Prenda Bela. Prenda Bela era o nome da mulher de Oloú, filha dileta do rei de Ibadã. Oxum baixou o nível das águas e Oloú passou com seu exército. Oloú jogou no rio a bela prenda: uma grande oferenda com as melhores comidas e bebidas, os mais finos tecidos, jóias luxuosas e raros perfumes, correntes de ouro puro, banhos preciosos. Tudo foi devolvido para as areias das margens de Oxum. Oxum só queria Prenda Bela, a princesa. Tempos depois, Oloú retornou vitorioso de sua expedição e, ao chegar ao rio, este novamente estava turbulento, O rei ofereceu de novo o mesmo que ofertara antes: uma bela prenda com as melhores comidas e bebidas os mais finos tecidos, jóias luxuosas e raros perfumes, correntes de ouro puro, banhos preciosos. Oxum recusou o oferecido. tudo foi devolvido à praia, intocado. Ela queria Prenda Bela, a esposa de Oloú, que estava grávida. Contrariado, mas sem ter outra saída, Oloú lançou ao rio sua indefesa e grávida consorte. ao ser lançada às águas revoltas, Prenda Bela deu à luz uma criança. Oxum devolveu a criança; era somente Prenda Bela que ela queria. Oloú seguiu seu caminho, retornando muito triste a seu reino. O rei Ibadã logo foi informado do fim trágico da filha. Declarou guerra a Oloú, venceu-o e o expulsou para sempre do país.





OBÁ

Obá escolheu a guerra como prazer nesta vida. Enfrentava qualquer situação e assim procedeu com quase todos os orixás. Um dia, Obá desfiou para a luta Ogum, o valente guerreiro. O ardiloso Ogum, sabendo dos feitos de Obá, consultou os babalaôs. Eles aconselharam Ogum a fazer oferendas de espigas de milho e quiabos, tudo pilado, formando uma massa viscosa e escorregadia. Ogum preparou tudo como foi recomendado e depositou o ebó num canto do lugar onde lutariam. Chegada a hora, Obá, em tom desafiador, começou a dominar a luta. Ogum levou-a ao local onde estava a oferenda. Obá pisou no ebó, escorregou e caiu. Ogum aproveitou-se da queda de Obá, num lance rápido tirou-lhe os panos e a possuiu ali mesmo, tornando-se, assim, seu primeiro homem. Mais tarde Xangô roubou Obá de Ogum.












YEMANJÁ

Iemanjá e Orunmilá eram casados. Orunmilá era um grande adivinho. Com seus dotes sabia interpretar os segredos dos búzios. Certa vez Orunmilá viajou e demorou para voltar e Iemanjá viu-se sem dinheiro em casa. Então, usando o oráculo do marido ausente, Passou a atender uma grande clientela e fez muito dinheiro. No caminho de volta para casa, Orunmilá ficou sabendo que havia em sua aldeia uma mulher de grande sabedoria e poder de cura, que com a perfeição de um babalaô jogava búzios. Ficou desconfiado. Quando voltou, não se apresentou a Iemanjá, preferindo vigiar, escondido, o movimento em sua casa. Não demorou a constatar que era mesmo a sua mulher a autora daqueles feitos. Orunmilá repreendeu duramente Iemanjá. Iemanjá disse que fez aquilo para não morrer de fome. Mas o marido contrariado a levou perante Olofim-Olodumare. Olofim reiterou que Orunmilá era e continuaria sendo o único dono do jogo oracular que permite a leitura do destino. Ele era o legítimo conhecedor pleno das histórias que forma a ciência dos dezesseis odus. Só o sábio Orunmilá pode ler a complexidade e as minúcias do destino. Mas reconheceu que Iemanjá tinha um pendor para aquela arte, pois em pouco tempo angariara grande freguesia. Deu a ela então autoridade para interpretar as situações mais simples, que não envolvessem o saber completo dos dezesseis odus. Assim as mulheres ganharam uma atribuição antes totalmente masculina.







ORIXALÁ

Orixalá vivia com Odé debaixo do pé de algodão. Odé ia para a caça e levava Odé. Eles eram grandes companheiros. Mas Odé reclamava sempre de Orixalá, que era muito lento e andava devagar. Estava muito velho o orixá do pano branco. E Orixalá reclamava de Odé Oxossi, que era muito rápido e sempre andava bem depressa. Era muito jovem o caçador. então os dois resolveram se separar. Mas Odé estava muito triste, porque fora criado por Orixalá. E Orixalá estava muito triste, porque fora ele quem criara Odé. Odé disse então a Orixalá que todo o mel que ele colhesse seria sempre dado a Orixalá e que ele mesmo nunca mais provaria uma gota, reservando tudo o que coletasse ao velho orixá. E que Orixalá sempre dele se lembrasse, quando comesse seu arroz com mel do caçador. Nunca mais Odé comeu do mel. Nunca mais Orixalá de Odé se esqueceu.











OXAGUIÃ

Oxalá, rei de Ejigbô, vivia em guerra. Ele tinha muitos nomes, uns o chamavam de Elemoxó, outros de Ajagunã, ou ainda Aquinjolê, filho de Oguiriniã. Gostava de guerrear e de comer. Gostava muito de uma mesa farta. Comia caracóis, canjica, pombos brancos, mas gostava mais de inhame amassado. Jamais se sentava para comer se faltasse inhame. Seus jantares se estavam sempre atrasados, pois era muito demorado preparar o inhame. Elejigbô, o rei de Ejibô, estava assim sempre faminto, sempre castigando as cozinheiras, sempre chegando tarde para fazer a guerra. Oxalá então consultou os babalaôs, fez oferendas a Exu e trouxe para humanidade uma nova invenção. O rei de Ejigbô inventou o pilão e com o pilão ficou mais fácil preparar o inhame e Elejigbô pôde se fartar e fazer todas as suas guerras. Tão famoso ficou o rei por seu apetite pelo inhame que todos agora o chamam de "Orixá Comedor de Inhame Pilado", o mesmo que Oxaguiã na língua do lugar.









OIÁ

Ogum caçava na floresta quando avistou um búfalo. Ficou na espreita, pronto para abater a fera. Qual foi sua surpresa ao ver que, de repente, de sob a pele do búfalo saiu uma mulher linda. Era Oiá. E não se deu conta de estar sendo observada. Ela escondeu a pele de búfalo e caminhou para o mercado da cidade. Tendo visto tudo, Ogum aproveitou e roubou a pele. Ogum escondeu a pele de Oiá num quarto de sua casa. Depois foi ao mercado ao encontro da bela mulher. Estonteado por sua beleza, Ogum cortejou Oiá. Pediu-a em casamento. Ela não respondeu e seguiu para floresta. Mas lá chegando não encontrou a pele. Voltou ao mercado e encontrou Ogum. Ele esperava por ela, mas fingiu nada saber. Negou haver roubado o que quer que fosse de Iansã. De novo, apaixonado, pediu Oiá em casamento. Oiá, astuta, concordou em se casar e foi viver com Ogum em sua casa, mas fez as suas exigências: ninguém na casa poderia referir-se a ela fazendo qualquer alusão a seu lado animal. Nem se poderia usar a casca do dendê para fazer o fogo, nem rolar o pilão pelo chão da casa. Ogum ouviu seus apelos e expôs aos familiares as condições para todos conviverem em paz com sua nova esposa. A vida no lar entrou na rotina. Oiá teve nove filhos e por isso era chamada Iansã, a mãe dos nove. Mas nunca deixou de procurar a pele de búfalo. As outras mulheres de Ogum cada vez mais sentiam-se enciumadas. Quando Ogum saía para caçar e cultivar o campo, elas planejavam uma forma de descobrir o segredo da origem de Iansã. Assim, uma delas embriagou Ogum e este revelou o mistério. E na ausência de Ogum, as mulheres passam a cantarolar coisas. Coisas que sugeriam o esconderijo da pele de Oiá e coisas que aludiam ao seu lado animal. Um dia, estando sozinha em casa, Iansã procurou em cada quarto, até que encontrou sua pele. Ela vestiu a pele e esperou que as mulheres retornassem. E então saiu bufando, dando chifradas em todas, abrindo-lhes a barriga. Somente seus nove filhos foram poupados. E eles, desesperados, clamavam por sua benevolência. O búfalo acalmou-se, os consolou e depois partiu. Antes, porém, deixou com os filhos o seu par de chifres. Num momento de perigo ou de necessidade, seus filhos deveriam esfregar um dos chifres no outro. E Iansã, estivesse onde estivesse, viria rápida como um raio em seu socorro.





Fonte: Livro Mitologia dos Orixás, 2001.

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